Pipas de Marach
2,6m x 16,6m
Fotografia sobre pipas
2024
Este trabalho nasce do desejo de resgatar memórias, explorar ancestralidades e reconstruir laços entre gerações que foram fragmentadas pelo tempo e pela história. Ao revisitar a diáspora armênia, o projeto se propõe a conectar a trajetória familiar ao contexto histórico de um povo que, devido à perseguição, precisou adaptar-se a culturas distintas enquanto mantinha viva a sua essência.
A escolha da pipa como suporte e veículo mensageiro é essencial para o desenvolvimento deste projeto. A pipa, historicamente utilizada para medir distâncias e transmitir mensagens, carrega um peso cultural tanto no Oriente Médio quanto no Brasil, o que a torna um objeto simbólico de comunicação
e memória entre esses dois mundos. Nesse sentido, o uso da pipa permite explorar o biculturalismo, traçando paralelos entre a história armênia e a vivência em um novo país, destacando o desafio de preservar a língua, os costumes e a identidade cultural em meio a diferentes contextos sociais.
A diáspora armênia, impulsionada pelo genocídio de 1915, separou famílias, desfez lares e criou a necessidade de adaptação em terras estrangeiras. Para mim, esse contexto tem um peso pessoal. Minha avó paterna, que chegou ao Brasil aos quatro anos de idade, representa essa ruptura e a reconstrução em um novo ambiente. Através da fotografia, busco trilhar meu caminho de volta às minhas raízes, à Armênia que minha avó deixou para trás, mas que permanece viva em nossa memória familiar.
O genocídio armênio, um dos menos retratados na história, tornou-se uma ferida silenciosa para o povo armênio, esquecida por muitos e não devidamente reconhecida. No entanto, a cultura armênia sobreviveu, preservando sua língua, costumes e tradições, mesmo em meio à diáspora. Com o objetivo de resgatar e divulgar essa história, o projeto visa educar e sensibilizar o público, especialmente em São Paulo, que abriga uma das maiores colônias armênias do mundo. Existe, atualmente, mais armênios fora de seu país do que na própria Armênia, o que evidencia a magnitude
da diáspora e a relevância do tema.
Além disso, o projeto explorará a cidade de Marach, uma das poucas a registrar o genocídio, e trará imagens que contrastam sua transformação ao longo do tempo com fotos da família já estabelecida em São Paulo. Esse exemplo servirá como um dos pilares para discutir o impacto da imigração
e a construção de novas identidades. A memória, enquanto conceito central no trabalho, será explorada de maneira literal e figurativa, considerando inclusive a alteração da composição material da pipa, que em algum momento poderá ser feita de metal, conferindo peso físico às lembranças, embora a leveza
e acessibilidade do material tradicional ainda estejam sendo ponderadas.
No aspecto pessoal, o uso da pipa remete à infância e à volatilidade das memórias associadas à paternidade. A ausência de meu pai durante minha infância levanta questões sobre o que realmente me pertence, o que é memória e o que é uma construção da ausência. Neste sentido, a pipa assume um papel dual, representando tanto a leveza das lembranças quanto o peso emocional da ausência. A ausência, neste contexto, é também uma forma de permanência, sendo ela mesma uma presença invisível, mas sempre sentida.


